domingo, 23 de maio de 2010

A Luz, Por Trás do Escuro








Percebo minhas falhas, enquanto anseio por mais uma carícia nesta escuridão fechada e empoeirada.
Vendo uma folha ao chão, inclino-me até ela, e a seguro entre meus dedos. Suas finas leveduras fazem-me recordar de tristes memórias de um tempo passado, onde nem a terra, e nem o verde faziam parte deste mundo.
Volto a largá-la ao chão. É nesse instante que sinto naufragar em mares de desespero, procurando alcançar uma mão, que me é desconhecida.
Talvez seja ele? Penso. Mas volto a me conscientizar de que esse pensamento não me é permitido. Mais uma vez.
A folha, então, desaparecera. Carregada pela fria brisa que corre entre portas fechadas. A poeira estancada fora levada junto, deixando os azulejos do piso tão tentadoramente vulneráveis quanto minha vontade de chorar.
Atiro-me à ele, arranhando as pinturas numa tentativa inútil de abafar as lágrimas. E enquanto elas escorrem pelo meu rosto, fecho os olhos, retendo o último sopro que me resta desta vida.
É assim que acordo, segundos depois, entre lençóis suaves e acolhedores. E vejo seus olhos adormecidos. Sua mão estendida para mim. 







sábado, 8 de maio de 2010

O Estranho



Ele fixará seus olhos nos teus
Tomando para si, todo teu esplendor
Deliciar-se-á com o negro estrelar do céu
Enquanto observa o luar crescer,
Brilhando de ânsia e de dor.

Ele enrolará seus cabelos nos teus,
Inalando a fragrância na seda suave e macia
Ele aproximará seu queixo
Nas curvas nuas de tua nuca,
Aspirando a inocência de teu ser.

Brincará com suas cordas vocais,
Cantando a doce melodia dos anjos,
Oferecendo toda sua existência
Para afundar em seu mais prolongado eco
Para que quando o deixes,
Sintas a angústia, sua ausência.

Ele lhe tomará em seus braços,
Roubará teu hálito, arrancando-te deste mundo.
Provará o prazer violentamente,
Esvaziando-o até o fim, até o fundo.

Através dos bosques, entre as árvores
Passando no estômago até os calcanhares.
Ele bebe a seiva que tua veia faz correr,
Tu eres a razão do seu viver.




                                            
"[...]- Ali não tenho poderes. Entretanto...Madeleine foi criada. Você está livre.
- E você satisfeito - disse eu, retomando o autocontrole.- Não pretendo ser desagradável. Você me tem. Eu o amo. Mas estou mistificado. Está satisfeito?
- Como poderia não estar?- perguntou.- Claro que estou satisfeito."

(Entrevista com o Vampiro, Anne Rice)