terça-feira, 22 de junho de 2010

O Lago



Extenso, profundo e velho, era o lago. Naquela tarde fomos até ele, meu pai e eu. Costumávamos passar por ele de vez em quando, em nossos passeios de bicicleta, por isso conhecíamos-no muito bem. Porém estava diferente naquele dia. Lembro-me perfeitamente, como o sol, lentamente adormecendo, refletia seus raios sobre a superfície da água, por entre o contorno preto dos morros mais atrás, formando um oásis laranja e corado sobre o nítido espelhar do lago, parecendo um universo paralelo, e no entanto, incrivelmente acolhedor.
Paramos, os dois, nas margens, esperando algum inexistente sinal ou apenas desejando que aquelas carícias cálidas e luminosas não tornassem a nos abandonar. Ele então, abraçou-me forte. Senti-me como que expelida de uma vida da qual eu era e sempre fui parte, e agora estava sendo arrastada para o mais longe dela. Tão perto dela, e remotamente, tão distante. Mais tarde eu perceberia  como aquele abraço inesquecível tornara-se a mais torturável lembrança em minha vida.
Caminhou em direção ao lago, e entrando em uma pequena canoa, remou à lentidão de sua solidão, para depois deixar a água afastá-lo aos poucos, enquanto eu observava o entardecer esconder seus últimos raios de luz...
Esperei por ele até o fim daquele dia. Assim como nos seguintes.
Mas ele nunca voltou.
       

Certo dia, após oitenta e dois anos, ainda a sua espera, parei em frente ao lago, já seco pelo tempo e coberto de capim. Algo me dizia para entrar, para buscar instintivamente por algo que eu esquecera até antão.
Chegando a uma área circular, onde o capim e a mata rebeldes não ousaram invadir, encontrei-o.
Apenas as madeiras envelhecidas do que uma vez fora uma canoa restavam ali, semi-enterradas na areia. Mesmo assim, eu sabia que ele estava ali. E soube disto mais ainda quando vi sua imagem à minha frente, esperando por mim.

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